Como
vender um espetáculo.
Eu não tenho dúvidas de
que a grande dificuldade de gente como a gente é colocar preço no serviço, é
falar sobre o assunto; e cobrar então? Não é nada fácil. Mas exatamente por
isso, eu preciso falar sobre dinheiro com tranquilidade com você, acredito que-
nós empreendedores - precisamos ver o dinheiro pelo que ele realmente é:
simplesmente uma ferramenta de troca de valor. Então, você necessita
aprender que a valorização do nosso trabalho deve começar na gente, antes de
esperar que venha dos outros.
Precisamos definir
o preço que acreditamos que o nosso trabalho vale e sermos capazes de comunicar
esse valor com tranquilidade e segurança aos nossos clientes. Então, neste
curso, você vai perder esse medo de concorrência e vai perceber que quanto
mais você investir em si mesmo, mais o seu negócio ganha e mais
você consegue se diferenciar - naturalmente e estrategicamente! - de
outras pessoas mundo afora. E você não precisa replicar o modelo que a gente vê
aí fora que nos diz que temos que ser inimigos de quem serve ao mesmo público,
o famoso concorrente.
Eu concordo mais com a definição do britânico David Parrish, que chama os quem serve
ao mesmo cliente de “competidores”, pois esta definição que tem mais a ver com
o jeito que a gente vê o mundo. A segunda coisa que temos que entender é que o
preço de venda de uma apresentação sempre levará em consideração cinco
variáveis: o custo fixo, o custo variável, o custo de produção, a margem de
lucro líquido esperado e o custo do produto.
Preço
de um espetáculo
·
Custo fixo – são os custos de um produto
artístico que se mantêm constantes (processo de criação de espetáculo, plano de
marketing, pré-ensaios, manutenção de equipamentos, comprar de equipamentos,
entre outros) independentes da variação positiva ou negativa da atividade de
produção (confecção de produtos em formato digital (fonográfica - CD e DVD),
telefone, gasto com publicidade, material de expediente, dentre outros) ou
prestação de serviço (essa despesa (direta) é independente da realização de uma
apresentação; ou seja, é um dispêndio financeiro que o produtor artístico faz
para manter ou inserir seus serviços no mercado) e até mesmo independentemente
do volume de vendas (o conceito de custo fixo está estritamente vinculado ao
processo de produção de bens e serviços; ou seja, é tudo aquilo referente aos
esforços realizados com o objetivo da fabricação de um produto ou a prestação
de um serviço);
·
Custo variável – são os custos que oscilam em
função da logística operacional para a realização de uma prestação de serviço,
que aumenta de acordo com a alteração das despesas (alimentação, transporte,
hospedagem; assim como, aluguel de algum material utilizado na montagem da
apresentação, dentre outras coisas especificas. Além de comissões sobre vendas
e impostos diretos, como: ICMS, ISS, Previdência Social dentre outros) a mais
do custo fixo;
·
Custo de produção – mão de obra direta qualificada
(músicos, bailarinos, técnicos em áudio e iluminação, roadie, produtor executivo, produtor musical dentre outros. Baseado
pela portaria de numero 3.347/86 e 446/2004 por meio do Ministério do Trabalho
e Emprego, que estabelece o valor mínimo de prestação de serviço realizado por
músicos, firmada com a Federação Nacional de Cultura – FENAC, devidamente
registrada no sistema DEDIADOR do TEM), custos indiretos de produção (São os
demais custos relacionados ao processo produtivo que não podem ser diretamente
identificados aos materiais diretos. Por exemplo: ensaios técnicos e ensaios
artísticos); ou seja, são todos os custos relacionados com a produção e que não
podem ser economicamente separados entre as unidades que estão sendo
produzidas;
·
Margem de lucro líquido esperado (levar em consideração a
relevância artística do produto; que se constitui através de capital humana,
tempo de carreira, reconhecimento da sociedade e imprensa local perante sua
obra no mercado cultural, material fonográfico e vídeográfico) – é o lucro esperado
pelo proponente (proponente – é um adjetivo que qualifica a ação do indivíduo
que apresenta uma proposta, ou algo que tem por finalidade propor alguma coisa.
O termo “proponente” é comumente utilizado para identificar o autor de um
contrato, proposta oficial ou um produto, ou seja, a pessoa que teve a ideia de
produzi-la) ou sócio, depois de pagos os custos (fixo, variável e produção),
cujo percentual deve ser estabelecido, para que o proponente ou os sócios
saibam o que realmente está ganhando ou perdendo;
·
Custo do produto – o preço final é o ultimo passo
para a construção do valor de venda na nota fiscal; ele é a soma do valor do
custo fixo, do custo variável (é levado sempre em consideração os impostos
fiscais e a porcentagem estabelecida pela produtora (que emite a nota fiscal),
pois o mesmo interfere no valor final das despesas), do custo de produção, da margem de lucro
líquido esperado e adicionar o valor constituído pela produtora que geralmente
é entre 15 a 20%).
Formação do preço de venda
Para
se calcular o preço de venda de um espetáculo, precisamos saber:
·
O
valor do custo deste serviço (que é a soma dos valores dos custos fixos,
variáveis e produção);
·
O
regime tributário[1] do
produto, para cálculo das alíquotas de impostos (ICMS; ISS dentre outros);
·
Pagamento
de comissões sobre a venda (por meio de agente, empresário e/ou porcentagem
estabelecida pela produtora);
·
A
margem de lucro líquido esperado (que inicialmente deve oscilar entre 20 e 30%
sobre o faturamento);
·
O
valor do custo da apresentação artística; ou seja, a soma de todos os valores
acima citados.
Para descobrir o valor
do custo desta apresentação, você deve calcular quantos prestadores de serviços
serão necessários para a realização deste espetáculo, e consequentemente obter a
soma do valor total dos cachês dos mesmos. Agregar os valores dos custos de
produção e variáveis (quando houver). Levar em consideração quais os impostos
fiscais pertinentes nesta apresentação e fazer cálculo das alíquotas deles.
Depois definir com a produtora, ou agente qual a sua porcentagem.
Agora, o próximo
processo é mais delicado, que é descobrir a margem de lucro líquido esperada.
Para você começar ter uma noção de valores, pesquise o que outros artistas ou
grupos cobram pela mesma oferta, depois disto procure definir o preço dos seus
serviços. O preço deve ser suficiente para cobrir todos os custos, despesas,
impostos e no final gerar lucro na venda para manter o produto ativo. Dentro
deste entendimento é indicador calcular a margem de lucro líquido esperada
sobre o faturamento pro meio da ferramenta denominada: Mark up[2].
Como
calcular o Mark up?
·
Custos;
·
Despesas;
·
Impostos;
·
Lucro;
·
E
preço de venda.
Desta forma podemos
simplificar a estrutura do mark-up onde o preço é igual a somatória de todos os
elementos inclusive o lucro desejado. Exemplo metafórico: Uma Orquestra de
Baile cobra por prestação de serviço (baile), o valor de R$ 4.000,00 (quatro
mil reais), logo o proprietário acrescentará 20% da sua intermediação, que será
o valor de R$ 800,00 (oitocentos reais); sendo assim, teremos o valor final[3]
para o contratante, que será de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais).
Esse preço pagará o custo fixo, variáveis e produção; sobraram 20% de margem de
lucro estabelecido pelo proprietário[4].
Diferença
entre lucro e pró-labore:
O lucro corresponde à
remuneração do capital investido na empresa. O pró-labore é a remuneração paga
às pessoas responsáveis pela administração da empresa, normalmente é
distribuído na proporção da participação do sócio no capital social. Diferente do lucro, ele está sujeito ao IRPF[5]
(Imposto de Renda de Pessoa Física) e à contribuição para o INSS (imposto sobre
serviço de qualquer natureza).
Gestão financeira
Para manter
durabilidade em um produto artístico[6]
tem que se ter uma boa gestão contábil[7];
pois ela garante a saúde do mesmo, mantendo os compromissos assumidos honrados
em dia e ampliando-se os lucros sobre investimentos. Sendo assim, devemos
utilizar um instrumento gerencial que controle e informe, todas as
movimentações financeiras (entradas e saídas de valores), dentro de um período
estabelecido (podendo ser: diário, semanal, mensal entre outros). Essa
ferramenta chama-se Fundo de Caixa[8],
ele informar ao artista sobre a situação da movimentação diária dos recursos
financeiros disponibilizando as informações pertinentes aos pagamentos,
recebimentos e ao saldo acumulado.
Não confundir entradas
e saídas, com receitas e despesas; pois a primeira refere-se à movimentação do
dinheiro em espécie; ou seja, a entrada de dinheiro e seu desembolso imediato,
considerando-se um período determinado já que a segunda pode ocorrer no período
determinado, porém com desembolso futuro. O fluxo de caixa é indispensável para
uma orientação quanto aos rumos financeiros dos negócios. Sua elaboração torna
possível prognosticar eventuais excedentes ou escassez de caixa contribuindo
para que sejam tomadas as medidas corretivas ou preventivas necessárias.
Secundariamente,
devemos utilizar esses dados para constituir a gestão do capital de giro que é um dos aspectos mais importantes para a saúde
financeira do produto artístico. De fato,
isso se justifica, pois quando o produto
artístico não consegue manter um nível satisfatório de caixa para honrar
seus compromissos, por causa do desequilíbrio no fundo financeiro,
provavelmente ela poderá ser forçada a sair do mercado, pois a insuficiência de
caixa pode determinar cortes; assim como, perda de créditos junto aos
fornecedores e prestadores de serviços, além de ser causa de uma série de
suspensões de operações.
Para garantir o capital
de giro é necessário o funcionamento do produto,
a produção administrativa deve dedicar-se grande parte de seu tempo à
administração do caixa (disponibilidades), e administração das contas a receber
provenientes das vendas a prazo (eventos para governos municipais, estaduais e
federais). Também deve fazer a administração das obrigações a pagar
(prestadores de serviços: músicos, bailarinos, equipe técnica, fornecedores,
impostos, empréstimos, despesas operacionais e outras contas), além de visitas
e negociações com bancos.
Decisões
de Impactos positivos:
1-
Redução
dos prazos de recebimentos de vendas, mediante:
1.2-
Aumentos
das vendas à vista de espetáculos[9];
1.3-
Ações
efetivas de cobrança[10]
e melhoria no crediário[11]
para reduzir os valores em atrasos com as vendas a prazo (de shows ou
mercadorias, como: CDs e DVDs);
1.4-
Aumentos
de prazos para pagamentos aos fornecedores (Studio de gravações; Fabricas de
CDs e DVDs, Gráficas dentre outros).
2
– Entrada de novos recursos no fluxo de caixa mediante:
2.1- Integralizações de capital
dos sócios (quando é uma banda com sociedade ou quando é um artista com
sociedade com uma produtora);
2.2- Vendas à vista de CDs e
DVDs.
2.3- Sempre que possível à
empresa deve optar pela permuta ao invés de realizar pagamento em dinheiro para
a aquisição de bens e serviços (isso faz com que ela se capitalize).
Impactos negativos:
1.1
–
Aumento dos prazos de vendas:
1.2
– Financiamentos do próprio produto artístico;
1.3
– Aumento das compras à vista;
1.4
- Retiradas de recursos para aplicações em
outras atividades;
1.5
- Excesso de retiradas pelos sócios;
1.6
- Redução dos lucros[12].
1.7
- Presta serviço a clientes que não pagam.
A importância da apuração de resultado
Ao calcular a diferença entre as vendas totais e os custos e despesas
de um período, é possível avaliar se o negócio está dando lucro ou prejuízo. Entretanto mesmo você tendo colocado em prática
todos os instrumentos e sugestões para aprimorar a gestão do capital de giro e,
mesmo assim, seu produto artístico
continua sofrendo financeiramente com o caixa apertado, é cedo demais para
concluir que o negócio está operando com prejuízo. Lembre-se que nem sempre
caixa e lucro andam juntos. O primeiro procedimento é fazer
uma apuração mensal de resultados.
Esse é um instrumento de gestão
econômica que possibilita ao empresário conhecer os resultados de seu negócio,
no fim de determinado período (por exemplo, no fim cada mês, trimestre,
semestre ou de cada ano). A apuração de resultados representa a diferença entre
as vendas totais e os custos e despesas totais (do período que se pretende
apurar). Quando o resultado é positivo, significa que o produto operou com
lucro. Quando o resultado é negativo, significa que teve prejuízo.
[1] No caso se seu produto é pessoa jurídica, o
calculo será feito através do regime de
tributação que se encontra sua empresa (Simples Nacional; Lucro Presumido;
Lucro Real ou MEI – Microempreendedor Individual).
[2] Ele é um índice aplicado sobre o custo
de um produto ou serviço para a formação do preço de venda, baseado na ideia de
cost plus pricing ou preço margem,
que consiste basicamente em somar-se ao custo unitário do produto ou serviço
uma margem de lucro para obter-se o preço de venda.
[3] A partir do
cálculo do preço de venda, é necessário compará-lo com os preços praticados
pelo mercado, a fim de checar se os gastos foram sub ou superestimados.
[4] Atenção: somente sobrarão os 20% de margem de
lucro, se os gastos forem exatamente como os previstos no cálculo, pois, caso
contrário o lucro poderá se transformar em prejuízo.
[5] É a sigla para o
Imposto de Renda de Pessoa Física, um imposto federal que é cobrado de todas as
pessoas que tem ganhado acima de um valor mínimo definido pelo governo. Em 2016
a declaração de Imposto de Renda era obrigatória a pessoas que tiveram ganhado
acima de R$ 28.123,91 no ano anterior.
[6] É qualquer
pessoa física ou jurídica detentora de um patrimônio. Resulta na combinação de
três fatores de produção: natureza, capital e trabalho.
[7] É uma
ferramenta de administração e controle do patrimônio do produto artístico por
meio dos registros calculados dos fatos gerenciais e das respectivas
demonstrações dos resultados gerados pela empresa.
[8] Esse termo deve
abranger não somente a saldo de conta bancária (fluxo de caixa); mas, a todos
os recursos disponíveis da empresa, dos quais se possa fazer uso, como se fosse
dinheiro; ou seja, disponibilidades imediatas, tais como, aplicações de
liquidez imediata.
[9] Evitar ter clientes que atrasam demais
seus pagamentos.
[10] Exemplo: Contrato de longo prazo, nessa
opção, deve ser adotar a seguinte política: Na contratação, para adquirir o
serviço, é pago um valor de entrada (sendo relacionado aos custos) e o restante
será pago na semana anterior ao evento.
[11] Exemplo: Buscar uma parceria com um cartão de credito
para financiar as vendas a prazo, e oferecer uma alternativa ao cliente de
pagar pelo cartão de credito; então o produto passa a receber à vista e o cliente
fica devendo à financeira. Essa antecipação pode ser utilizada para suprir
deficiência de caixa para investimentos dentre outras utilizações.
[12] A partir do momento em que o
administrador conhece os seus custos, ele compreende qual o impacto que o desconto
irá causar no lucro da sua empresa, assim ele consegue estabelecer o preço
ideal, que ocorre quando se equilibra o custo do que a empresa oferece e a sua
margem de lucro. A diminuição de preços desordenadamente pode causar
desequilíbrio financeiro e perdas para o negócio sem garantir um bom fluxo de
caixa.
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